A forte valorização das ações do Santander Brasil após o balanço de 2024 coroou a estratégia do banco de priorizar a rentabilidade, mesmo com uma expansão da carteira de crédito abaixo da de seus pares. Os papéis disparam 7% na manhã de quarta-feira, 5 de fevereiro, e está entre as maiores altas do Ibovespa.
O lucro do Santander cresceu 47,8% em 2024 para R$ 13,87 bilhões, sendo R$ 3,86 bilhões no quarto trimestre, 75% superior ao do mesmo período de 2023. O desempenho foi impulsionado principalmente pelo crescimento da margem financeira, que subiu 16%, para R$ 17,98 bilhões no trimestre. O ROAE (Return on Average Equity) foi de 17,6%, 5,3 pontos percentuais acima do registrado no quarto trimestre de 2023.
“O Santander acredita que 2024 foi o ano da consolidação da transformação. Desenhamos muita coisa em 2022 e 2023 e, em 2024, conseguimos entregar boa parte do que planejamos. Vamos buscar cada vez mais essa visão de rentabilizar melhor o que já temos”, afirma Mario Leão, CEO do Santander Brasil.
Com projeções de alta na Selic e expectativas de desaceleração econômica, essa estratégia deve se tornar ainda mais relevante em 2025.
Enquanto o lucro do banco cresceu quase 50% em 2024, a carteira de crédito avançou apenas 6,3%, alcançando R$ 643 bilhões. O crescimento foi impulsionado principalmente por cartões de crédito (+16,3%), financiamento ao consumo (+19,1%) e crédito para PMEs (+13,7%). Já a carteira para grandes empresas encolheu 3%.
Segundo Leão, essa retração no segmento corporativo reflete a escassez de oportunidades diante da compressão dos spreads ao longo do ano passado. “Analisamos caso a caso no atacado, sempre com disciplina na alocação de capital. Preferi crescer menos no atacado e focar no varejo e na financeira.”
Nas frentes de cartões e PMEs, o Santander tem concentrado a concessão de crédito em clientes com melhor perfil de risco. Já no financiamento ao consumo, o avanço foi puxado pelo forte desempenho do setor automotivo. No entanto, Leão prevê uma demanda mais fraca nessa categoria em 2025, que representa 12,2% da carteira de crédito ampliada do banco.
“Em alguns negócios, definitivamente, vamos crescer menos neste ano. Primeiro porque muita gente já trocou de carro, e segundo porque a taxa de juros mais alta encarece o custo do financiamento”, diz o CEO.
Leão também prevê que a alta da Selic e um cenário inflacionário mais desafiador terão impacto sobre o crédito para pessoas físicas e PMEs. “O Santander está atento à evolução da inadimplência diante do cenário macroeconômico”, afirma.
Segundo ele, o impacto deve se concentrar na renda disponível e na capacidade de pagamento dos clientes pessoa física. No entanto, o banco não vê riscos com o aumento das taxas dos empréstimos já concedidos, pois são pré-fixados.
No segmento de PMEs, a preocupação está no fluxo de caixa das companhias. “As empresas que se financiam com taxas pós-fixadas sentem mais, porque cada alta do CDI encarece a dívida imediatamente”, explica.
Para as novas concessões de crédito, a postura será ainda mais cautelosa. “Até podemos crescer nossa carteira no mesmo ritmo do ano passado, mas é muito improvável que superemos o crescimento de 2024.”
O objetivo de alcançar um ROE de 20%, divulgado no ano passado, continua de pé, mas não deve ser atingido neste ano. “Nunca imaginamos que seria em 2025, mas a direção segue a mesma. A cada ponto percentual que avançamos a partir de 17,6%, o desafio aumenta.”