Donald Trump venceu a eleição presidencial dos Estados Unidos há menos duas semanas e já anunciou vários nomes para cargos-chave do seu futuro governo, que toma posse em janeiro, incluindo o de Elon Musk – que vai ocupar a pasta de Eficiência Governamental.
O suspense em torno da nomeação para o estratégico posto de secretário do Tesouro, porém, levou a imprensa americana a revelar, nesta segunda-feira, 18 de novembro, uma guerra nos bastidores nos últimos dias – com participação de Musk – para influenciar a escolha de Trump.
O que está em jogo ajuda a entender a disputa. O futuro secretário do Tesouro será responsável pela jurisdição do mercado financeiro e por decisões de grande impacto da agenda econômica de Trump, como a imposição de tarifas de importação, emissão da dívida pública, política cambial e gestão dos títulos do Tesouro, entre outros temas.
Até a semana passada, apenas dois nomes eram tidos como opções de Trump para ocupar o posto, ambos bilionários veteranos de Wall Street. Scott Bessent, CEO do Key Square Group, um fundo de hedge, despontou como o favorito para o Tesouro logo após a eleição.
Um dos principais articuladores da candidatura Trump, Bessent passou a fazer campanha abertamente pelo posto e gradativamente começou a perder espaço para outro titã do mercado financeiro, Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald, tradicional empresa de serviços financeiros, com mais de 5 mil clientes institucionais.
Lutnick sempre foi tido como um dos principais conselheiros de Trump, mas não estava cotado para o cargo. Do nada, seu nome começou a ser citado por dois secretários já escolhidos pelo novo presidente: Musk e Robert F. Kennedy Jr. (Saúde).
Em um movimento coordenado, Kennedy Jr. conseguiu fazer uma ponte com a agenda de criptomoedas do novo presidente por meio de uma postagem no X na qual afirmou que “o bitcoin não teria um defensor mais forte do que Howard Lutnik [sic]”, grafando errado o nome do possível candidato.
Depois, foi a vez de Musk atacar em duas frentes, também no X: defendeu a escolha de Lutnick como um nome “mais forte” para o cargo do que Bessent, que segundo o dono da Tesla representava o “business-as-usual”, numa forma depreciativa de se referir ao investidor.
“O business-as-usual está levando a América à falência, então precisamos mudar de uma forma ou de outra”, escreveu Musk na semana passada. Horas depois, Bessent se reuniu brevemente com Musk e Trump na Flórida.
Mais dois nomes
Não se sabe o que saiu da conversa, mas Trump teria ficado irritado com o lobby de Bessent e também de Lutnick pela vaga. De forma surpreendente, dois outros nomes para o Tesouro surgiram durante o fim de semana, ambos igualmente ligados a Wall Street, indicando que a disputa ainda está longe do fim.
Um deles é Marc Rowan, o CEO bilionário e cofundador da Apollo, a gigante de private equity. O quarto nome, Kevin Warsh, a pessoa mais jovem a ocupar o conselho do Federal Reserve (entre 2006 e 2011), trabalha com o lendário bilionário dos fundos de hedge Stan Druckenmiller e surgiu como um nome de perfil mais técnico.
A extensa lista de candidatos também se explica porque poderá ser aproveitada em outros postos importantes na economia que terão de ser preenchidos pelo novo governo – como o de diretor do Conselho Econômico Nacional e o de secretário de Comércio.
Robert Lighthizer, que era o representante comercial dos EUA quando Donald Trump lançou sua guerra comercial com a China, a princípio era cotado para voltar a ocupar o posto de “czar do comércio” por sua postura pró-tarifa de importações. Mas a imprensa americana não descarta de ele ser “promovido” a uma das vagas em disputa pelos gestores de Wall Street.
Quanto a Warsh, mesmo que seja preterido, é tido como favorito para ser indicado por Trump para suceder a Jerome Powell, quando expirar o mandato do atual presidente do Fed, em maio de 2026.