Em um dos momentos mais desafiadores da indústria de investimentos alternativos, a Crescera Capital ligou a sua máquina de captação e está em conversas com diversos investidores institucionais, como fundos de pensão e family offices, para levantar US$ 500 milhões para o seu sexto fundo de private equity.
A ideia é fazer o primeiro fechamento do fundo até o primeiro trimestre de 2025. Nesse momento, a gestora está prospectando apenas investidores brasileiros. Na sequência, o plano é distribuir o fundo via plataformas, como Itaú, BTG Pactual e XP, para os ultra high net worth individuals. Investidores estrangeiros também estão no radar mais para frente.
“O mercado está superdifícil e desafiador. A piscina está gelada e preciso pular e começar a nadar”, afirma Daniel Borghi, sócio da Crescera Capital, ao NeoFeed. “Uma captação a gente sabe quando começa, mas não quando e como termina.”
O novo fundo vai seguir a mesma tese do anterior, que levantou R$ 2,2 bilhões e que investiu em empresas do middle market dos setores de educação, saúde, varejo, tecnologia e serviços.
O objetivo é fazer em torno de 10 investimentos, com cheques médios entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões por participações, em geral, minoritárias, mas relevantes, que permitam que a gestora possa influenciar na gestão da investida.
“Esses valores nunca são cravados em pedra. Às vezes, um pouco mais ou pouco menos”, diz Borghi. Da safra mais recente, a Crescera Capital investiu na Alura (educação), Nelógica (tecnologia), Grupo Zelo (serviços funerários) e Avantia (segurança).
Agora, a gestora, que teve como sócio o ex-ministro da Fazenda, Paulo Guedes, deve começar a fase de desinvestimentos de seu quinto fundo. “Um dos pequenos grandes segredos é começar a desinvestir”, afirma Borghi. “O investidor fica feliz e reinveste no fundo.”
De acordo com Borghi, tão importante quanto a TIR (taxa que mede o retorno do investimento) é a DPI (Distributed to Paid-In Capital), termo que mede o capital total que um fundo de private equity retorna para os seus cotistas. “A DPI é a nova TIR”, brinca o sócio da Crescera Capital.
A estratégia pode fazer sentindo, pois a Crescera Capital vai a mercado em um momento no qual os investidores estão reduzindo a alocação em investimentos alternativos. Em especial, em venture capital e private equity.
O NeoFeed apurou que há mais de 40 fundos que estão captando recursos com investidores no Brasil neste momento. E a maioria deles está com bastante dificuldade de atingir as metas propostas. “São poucos os fundos que conseguem fechar dentro da meta”, afirma uma fonte de setor.
O cenário não é diferente globalmente. No primeiro semestre deste ano, os fundos de private equity captaram US$ 365,75 bilhões, de acordo com dados da S&P Global Market Intelligence e Preqin. Se o ritmo seguir na mesma taxa pelo restante do ano, a queda será de 20% em 2024 – no ano passado, captação foi de US$ 919,27 bilhões.
Outro sinal da dificuldade é o número de fundos que concluíram a captação – um indicativo que está levando mais tempo para conseguir os recursos planejados. No primeiro semestre deste ano, foram 704. Em 2023 inteiro, 2.590.
Borghi sabe dessa dificuldade, mas acredita que o track record da Crescera Capital conta a favor. A casa está no mercado desde 2008 e já levantou cinco fundos de private equity – além das captações para as teses de venture capital.
O primeiro deles, que investiu apenas em educação, captou R$ 360 milhões. O segundo apostou na tese de varejo e serviços e levantou R$ 600 milhões.
Já o terceiro voltou a alocar recursos apenas em educação e conseguiu R$ 800 milhões. O quarto, que atingiu R$ 1 bilhão, focou em varejo, saúde e tecnologia.
Só com o quinto fundo, de R$ 2,2 bilhões, que a Crescera Capital reuniu em um único veículo todas as teses nas quais a gestora investe – o que vai ser agora repetido.
Outro ponto que Borghi acredita jogar a favor da Crescera Capital, para convencer os investidores a alocar recursos, é o histórico de saídas da gestora.
Ela fez o IPO da Abril Educação (que depois se transformou em Somos), Ânima e Afya – está última foi listada na Nasdaq. Em transações privadas, vendeu o Hortifruti para a suíça Partners Group e o Forno de Minas para a canadense McCain.