Escassez de mão de obra é o novo normal nos países desenvolvidos

Escassez de mão de obra é o novo normal nos países desenvolvidos


Um estudo recente divulgado pelo McKinsey Global Institute traz revelações surpreendentes sobre o mercado de trabalho nas nações desenvolvidas, que deverão impactar a economia mundial nos próximos anos.

Uma delas é que a escassez de mão de obra – fenômeno que se consolidou no Primeiro Mundo desde o fim da pandemia. Na verdade teve início em 2010 e ainda deverá permanecer inalterada por longo prazo, acompanhando a redução demográfica das nações ricas.

A outra revelação, igualmente preocupante, é que sem mudança desse quadro no médio prazo, as empresas terão de descobrir como gerar o mesmo resultado com menos trabalhadores – um grande risco para o crescimento econômico de países mais avançados, como os Estados Unidos, se novas tecnologias como a inteligência artificial (IA) generativa não funcionarem.

Os dados levantados pelo estudo do instituto da McKinsey, intitulado “Procura-se ajuda: mapeando o desafio dos mercados de trabalho restritos na economia avançada”, ajudam a entender as grandes modificações no mercado de trabalho após a recuperação da crise financeira global de 2008.

O estudo abrange levantamento feito, no total, em 30 economias na Ásia, Europa e América do Norte, com foco especial nas oito maiores: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos.

“O excedente de desempregados ou de candidatos a emprego diminuiu para mínimos históricos em toda a economia global a partir de 2010”, aponta o relatório. “Esta é uma mudança profunda. Significa que todas as suposições feitas pelas empresas – de que poderiam crescer com relativa facilidade contratando pessoas – estão sendo desafiadas.”

A tendência de aperto começou após a crise financeira de 2008, quando as vagas de emprego foram reduzidas. A recuperação foi lenta: os mercados de trabalho nessas 30 economias levaram em média 8,2 anos para atingir o grau de aperto que tinham antes da crise.

A McKinsey adverte para um efeito colateral dessa tendência: mercado de trabalho apertado significa perda de produção econômica. De acordo o estudo, o PIB em 2023 poderia ter sido de 0,5% a 1,5% maior nas economias avançadas se os empregadores fossem capazes de preencher suas vagas de emprego excedentes.

Por outro lado, as empresas e as economias precisarão aumentar a produtividade e encontrar novas maneiras de expandir a força de trabalho. Caso contrário, eles terão dificuldades para superar – ou mesmo igualar – o crescimento econômico relativamente fraco da última década.

O estudo adverte que mercados de trabalho apertados significam que os trabalhadores podem exigir salários mais elevados, especialmente em setores como os cuidados de saúde, construção, lazer e hotelaria, onde a escassez é mais aguda.

“De certa forma, isto acaba por forçar as empresas a concentrarem-se na produtividade para sustentar custos salariais mais elevados”, afirma o relatório. “Se a produção ou o valor acrescentado por trabalhador aumentar, é possível sustentar esse salário mais elevado sem sentir o aperto.”

O estudo indica alguns caminhos para empresas adotarem. Um deles é concentrar esforços na qualificação e requalificação, incluindo a atração de talentos de grupos não convencionais, oferta de trabalho mais flexível e mobilidade interna.

Outro é priorizar investimento em IA e em automação que complementam e substituem mão de obra para reduzir a queda de produtividade.

A McKinsey afirma que a adoção da IA poderá criar um novo tipo de escassez: o trabalho rotineiro será transformado em mercadoria mais rapidamente, enquanto a procura pelo trabalho cognitivo criativo aumentará — e as competências terão de ser ajustadas.

O próprio estudo questiona se esse salto pode ocorrer. “Cabe aos empregadores e ao sistema educacional fazer com que isso aconteça – esse é realmente o grande desafio daqui para frente.”

Cenário nos EUA

Os EUA servem de exemplo para esse novo normal do mercado de trabalho apertado. De acordo com o relatório, o número de empregos abertos por trabalhador disponível nos EUA aumentou mais de sete vezes entre 2010 e 2023.

O mercado de trabalho dos EUA afrouxou um pouco desde 2022, graças à diminuição da procura e à entrada de imigrantes no mercado de trabalho. Mas, mesmo assim, a taxa de desemprego é de 4%, inferior à de qualquer mês no país entre dezembro de 2000 e 2017. No total, há cerca de 2,6 milhões de vagas não preenchidas nos EUA.

Esse novo normal, no entanto, está gerando distorções na economia americana. Embora o índice de desemprego ainda seja relativamente baixo, o mercado de trabalho também dá mostras de estagnação no país.

Cargos administrativos ou com altos salários não estão prontamente disponíveis como logo após a pandemia, numa indicação de que muitos americanos estão desistindo da ideia de trocar de emprego rapidamente.

Outra pesquisa recente, com gerentes de contratação, feita pelo Resume Builder, descobriu que três em cada 10 empresas têm listas de empregos falsas ativas, ou seja, anunciam dispor de vagas que na verdade jamais serão preenchidas – algo surpreendente até para os padrões atuais.

Muitas empresas justificam essa iniciativa como uma forma de ajudar seus funcionários. Isso porque publicar propostas de empregos pode passar a impressão de que a empresa está crescendo e sinalizar aos funcionários esgotados que a ajuda está a caminho.

Outro fenômeno recente dá uma ideia da complexidade deste mercado. Uma pesquisa do Gallup constatou que o envolvimento dos americanos no trabalho atingiu o nível mais baixo em 11 anos.

Segundo a pesquisa, em fevereiro, apenas 30% dos trabalhadores dos EUA relataram estar totalmente engajados com seus empregos. O verdadeiro problema do trabalho, de acordo com a pesquisa, não é o salário ou os benefícios, mas a falta de propósito.

Os americanos sentem cada vez mais que os seus empregos não têm sentido e a sua insatisfação torna-os mais propensos a pedir demissão. O sentimento é especialmente prevalente entre os millenials (nascidos entre 1982 e 1994) e a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010).



Fonte: Neofeed

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