Richard Cashin está no competitivo mercado financeiro desde os anos 1980. Formado em Harvard, passou por Citigroup e Bank One, onde nasceu a One Equity Partners que depois veio a fazer parte do J.P. Morgan para depois se tornar independente, que nasceu com a mesma mentalidade aprendida por ele quando foi membro do time olímpico americano de remo, onde foi medalhista pan-americano.
A gestora de private equity se especializou no middle market e Cashin entendeu que os atletas tinham o foco e a determinação que ele buscava para achar os cases de sucesso nesse mercado gigantesco. Primeiro ele foi trazendo diversos companheiros do remo para a empresa. Entre os 89 funcionários estão os 10 atletas. Além dele, os ex-remadores Jamie Koven, Ante Kusurin, Charlie Cole, Matt Hughes, Fritz Hobbs, Jack Lopas, Mike Disanto e Olivia Coffey.
Coffey é um exemplo da cultura desenvolvida nos últimos anos na OEP, como a gestora é conhecida: abraçar os desejos olímpicos de seus colaboradores juntamente com sua carreira em finanças. Ela competiu na Olimpíada de Paris e alcançou o 5º lugar pela equipe americana de remo de oito atletas. Em Tóquio 2020, ficou na quarta posição.
“A mentalidade determinada e persistente está enraizada nos atletas e é muito semelhante à abordagem de investimento da OEP”, diz Jamie Koven, sócio da OEP e ex-profissional do remo, ao NeoFeed.
“A disciplina e a resiliência que desenvolvi como atleta foram inestimáveis durante minha carreira na OEP, o que me ajudou a manter o foco nos objetivos de longo prazo e a manter a motivação necessária para alcançar o sucesso em minha vida profissional”, completa ele, que participou das Olimpíadas de Atlanta-1996 e Sidney-2000.
Se a vitória nos campeonatos mundiais de remo na modalidade individual e as duas participações olímpicas figuram no topo das conquistas esportivas, Koven coloca a aquisição da gigante de fotografia Polaroid Corp em 2002, por ter convencido o time de gestão da empresa a se juntar a até então nova gestora, no topo do pódio corporativo.
Para conseguir equilibrar as duas carreiras, ele conta que seguia um cronograma rígido que exige planejamento e disciplina. Começando o dia muito cedo remando antes do expediente no escritório e depois à noite focando na musculação.
“Manter esse equilíbrio realmente me manteve energizado e focado, o que me permitiu ter o melhor desempenho em ambas as áreas”, conta Koven.
Mas não só de remadores é formado o time da OEP. O croata Mario Ancic foi tenista profissional (chegou a ser o sétimo melhor do mundo pela ATP) e é o atual presidente da gestora, e Greg Bellinfanti jogou basquete profissional na França. O lema da gestora é ter atletas no seu time pois eles desenvolvem uma mentalidade única, focada e consistente no longo prazo para treinar para as competições – características muito importantes para trabalhar no mundo do private equity.
A competição pelas empresas
A OEP se tornou uma especialista em operações de middle market dentro do private equity. Ao contrário do investimento em grandes empresas, as médias não dependem de saídas via abertura de capital na bolsa de valores (IPOs), pois conta principalmente com vendas para estratégicos. E sempre há diversas opções na mesa, mais baratas, mais bem avaliadas e, assim, mais rentáveis.
Um estudo do J.P. Morgan de 2023 mostrou que cerca de 96% de todas as empresas privadas americanas são de pequeno ou médio porte, um mercado 25 vezes maior do que o de grandes empresas. Soma-se a esse universo maior a menor competição entre os investidores, o que faz dos múltiplos de aquisição (EV/EBITDA) desse segmento serem mais atraentes.
Desde 2010, o múltiplo médio de aquisição de empresas avaliadas em menos de US$ 1 bilhão é 15% menor do que as avaliadas entre US$ 1 bilhão e US$ 2,5 bilhões. E 22% menor do que as avaliadas acima de US$ 2,5 bilhões.
Além disso, empresas avaliadas em menos de US$ 1 bilhão têm 20% menos alavancagem de aquisição do que as empresas maiores. Isso reduz riscos e pagamento de juros, liberando dinheiro para investir no negócio ou retornar aos acionistas.
“Com certeza que o aumento de juros impactou o ambiente de negócios, mas nosso segmento se mostra bastante resiliente. E, por isso, temos visto cada vez mais interesse dos investidores em ter o middle market como uma parte mais importante do portfólio”, afirma Carlo Padovano, sócio da One Equity Partners, em entrevista ao NeoFeed, em passagem pelo Brasil.
Os retornos desse segmento também se mostram melhores na média histórica. Segundo o estudo do J.P. Morgan, entre 2010 e 2020, entre os fundos europeus e americanos no primeiro quartil de resultados, aqueles dedicados ao middle market conseguiram retorno médio de 23,7%, enquanto os large funds ficaram com 20,3%.
Além do foco no middle market – empresas avaliadas entre US$ 100 milhões e US$ 1 bilhão -, a gestora OEP busca empresas consideradas de valor (value) nos Estados Unidos e na Europa. Essa é uma outra tese de investimentos que tem atraído mais atenção dos investidores depois de frustrações com empresas de crescimento (growth).
“Temos capturado muitas oportunidades em investimentos com perfil de value, que por um tempo, na minha opinião, ficou subalocado nos portfólios. De certa forma, o cenário mais desafiador se apresenta como uma oportunidade para nós”, afirma Padovano.
A atuação da gestora é concentrada nos setores industriais, tecnologia com foco em manufaturas e serviços, e em healthcare, também focado em manufaturas e serviços. Em abril, a gestora concluiu a venda da Walki Holding Oy, um fornecedor pan-europeu de embalagens sustentáveis, para a Oji Holdings Corporation, grupo japonês de tecnologia de produtos de papel.
Entre as suas principais transações está a venda da provedora de serviços de home care Simplura para a gigante Providence Service Corporation no valor de US$ 575 milhões em 2020. O último fundo levantado pela gestora foi em 2022, quando captou um um recorde de US$ 2,75 bilhões.
A competição no mercado brasileiro
Se nos mercados desenvolvidos a procura pelo investimento em médias empresas está grande, por aqui a gestora ainda batalha contra o desconhecimento. O trabalho, agora, é engajar e educar o brasileiro sobre os benefícios de ter na carteira o segmento de middle market.
Quem se interessa e vê oportunidade ainda são os family offices e alguns private bankings.
“O Brasil é um mercado grande e sofisticado, mas eu diria que no segmento de alternativos, especialmente em mercados internacionais, está no seu estágio inicial. Por isso mesmo, esse é um dos mercados com maior potencial de crescimento no mundo, e queremos fazer parte disso”, diz Padovano.
Ele complementa dizendo que, hoje, há restrição dos investidores institucionais em colocar no portfólio investimentos em private equity internacional. Mas isso deve mudar no longo prazo – algo que não assusta a persistência de uma empresa formada por ex-atletas profissionais.