Não seria exagero dizer que Satya Nadella liderou uma reinvenção na Microsoft. Há dez anos no comando da gigante de Redmond, o CEO conseguiu reduzir a dependência extrema do sistema operacional Windows ao consolidar a transição da empresa para a computação em nuvem.
Com essa virada, a companhia ampliou seu portfólio e se firmou, por exemplo, como a principal rival da Amazon Web Services (AWS), empresa de infraestrutura de tecnologia da Amazon. E saiu de um valor de mercado de US$ 300 bilhões, quando ele assumiu o posto, para o valuation atual de US$ 3,1 trilhões.
Ao manter sua relevância no seleto clube das big techs, a Microsoft vem, no entanto, atraindo os holofotes em uma outra esfera: a dos reguladores. Esse é o caso de um novo processo conduzido pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) e que tem a empresa como alvo.
A FTC acaba de abrir uma ampla investigação antitruste sobre a Microsoft, em um caso que inclui seus negócios de licenciamento de software e, justamente, de computação em nuvem. As informações são da agência Reuters, que cita fontes familiarizadas com o tema.
O processo teve a chancela de Lina Khan, atual presidente da FTC, que deve deixar o cargo em janeiro. Com a eleição de Donald Trump, a expectativa é pela escolha de um nome com uma abordagem menos agressiva nas questões antitruste, o que deixa a continuidade da investigação em dúvida.
À parte essas incertezas, a investigação parte de alegações de que a Microsoft estaria abusando de seu poder de mercado em softwares ao impor termos de licenciamento “punitivos” para impedir que clientes movam seus dados da Azure, sua plataforma de nuvem, para serviços de concorrentes.
De acordo com as fontes próximas ao caso, a comissão também estaria analisando práticas relacionadas a produtos de segurança e inteligência artificial, essa última, uma das mais novas e relevantes apostas no portfólio da companhia.
A FTC recebeu reclamações de rivais da Microsoft ainda em 2023, enquanto fazia um “pente fino” no mercado de computação em nuvem. Segundo esses concorrentes, a empresa mantém seus clientes presos à sua oferta de cloud com essa abordagem.
Grupo de lobby que representa empresas online, entre elas a Amazon e o Google, principais rivais da Microsoft na nuvem, o NetChoice, por exemplo, criticou as políticas de licenciamento da empresa e sua integração de ferramentas de inteligência artificial nos sistemas do pacote Office e no Outlook.
“Dado que a Microsoft é a maior empresa de software do mundo, dominando os setores de produtividade e sistemas operacionais, a escala e as consequências de suas decisões de licenciamento são extraordinárias”, afirmou o grupo, segundo a Reuters.
Em setembro, o Google também teceu críticas à Microsoft na Comissão Europeia, ressaltando que a empresa fazia seus clientes pagarem uma taxa de 400% para executarem sistemas como o Windows Server em serviços rivais, além de fornecer atualizações de segurança limitadas e num prazo mais extenso.
Em paralelo a essas queixas, a FTC já havia reivindicado jurisdição sobre investigações sobre a parceria da Microsoft e da OpenAI em inteligência artificial, além de um acordo de US$ 650 milhões da companhia com a startup Inflection AI, na mesma área.
Com esses casos na mira, a Microsoft engrossa a ofensiva de órgãos reguladores contra as big techs. A Meta, dona do Facebook, a própria Amazon e a Apple são algumas dessas gigantes que também enfrenta acusações de monopólio.
Em outro movimento recente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos declarou que o Google pode ser obrigado a vender o Chrome, seu navegador, como parte de um processo judicial para corrigir o monopólio do mercado de buscas online.
O fato é que, no que diz respeito à Microsoft, a computação em nuvem já tem um peso substancial no resultado da companhia, ao permear boa parte das suas ofertas. É o que mostra o balanço mais recente, referente ao primeiro trimestre do ano fiscal da companhia, encerrado em 30 de setembro.
No período, a empresa reportou uma receita de US$ 65,6 bilhões, alta anual de 16%. Dentro desse resultado, as receitas de computação em nuvem cresceram 22%, para US$ 38,9 bilhões.
Um outro dado da consultoria americana Synergy Research mostra a evolução da Microsoft no mercado de infraestrutura de nuvem entre 2017 e 2024. Nesse intervalo, a empresa saiu de uma fatia de 11% para 23%. Enquanto o Google foi de 5% para 12% e a AWS recuou de 34% para 32%.
As ações da Microsoft encerraram o pregão da quarta-feira, 27 de novembro, com queda de 1,17%, cotadas a US$ 422,99. No ano, porém, os papéis têm alta de 12,7%.