O legado de estrategista de Churchill (muito além das frases que viralizam nas redes sociais)

O legado de estrategista de Churchill (muito além das frases que viralizam nas redes sociais)


Morto em 1965, aos 90 anos, vítima de um acidente vascular cerebral, Winston Churchill, o lendário primeiro-ministro inglês durante a Segunda Guerra Mundial, é um fenômeno nas redes sociais. Suas frases — e as atribuídas a ele — ecoam até hoje. Sobretudo aquelas com um quê de autoajuda; ensinamentos de como superar desafios nos campos de batalha, na vida e nos negócios.

“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder entusiasmo” está entre as mais citadas. Há outras: “Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem”; “Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir” e “É melhor morrer em combate do que ver ultrajada a nossa nação”. Em outra bastante famosa, ele diz: “Nunca tantos deveram a tão poucos”, referindo-se à luta de uma nação tão pequena como o Reino Unido na defesa de um mundo livre das atrocidades de Adolf Hitler.

Churchill foi um estrategista na guerra e na política. Enfrentou as forças do ditador nazista como um jogador de xadrez, uma vez que tinha um exército infinitamente menor, sob intenso bombardeiro por pelo menos quatro anos. Tudo isso ele contou ao longo de 4 mil páginas, em Memórias da Segunda Guerra Mundial. Um trabalho, aliás, que lhe rendeu o Nobel de Literatura, de 1953.

Vários livros foram escritos sobre Churchill. Agora, quando se completam 150 anos de seu nascimento, uma nova biografia chega ao Brasil, pela L&PM, com detalhes da vida de uma das figuras mais emblemáticas do século 20. Por encomenda da editora francesa Gallimard, a obra foi escrita por Sophie Doudet, professora de literatura francesa no Instituto de Estudos Políticos de Aix-en-Provence. Ela é autora também de André Malraux, Madame de Staël e Abbé Pierre.

Em Churchill, Sophie percorre a trajetória do primeiro-ministro desde o nascimento, no palácio de Blenheim, em Oxfordshire, até sua morte, dois meses depois de completar 90 anos. Filho da nobreza britânica, ele viveu três anos em Dublin, na Irlanda, onde seu avô, o duque de Marlborough, foi nomeado vice-rei. A formação, feitos como oficial militar, ascensão política e, claro, o papel fundamental na luta contra o nazismo são narrados com ênfase das lições que ele tirou de cada experiência.

E não foram poucas. O leitor tem a oportunidade de adentrar nos bastidores dos eventos que moldaram o século 20, segundo a biógrafa, a partir das relações complexas e até turbulentas que o político manteve com figuras como o general francês De Gaulle, o presidente americano Franklin Roosevelt e o líder soviético Joseph Stálin — fundamentais para impedir as ambições imperialistas de Hitler.

Churchill viveu em dois séculos e quase completou um inteiro de vida. Ele sobreviveu a duas guerras mundiais, de 1914 e 1939 — e foi importante para seu país em ambas. O seu desejo supremo foi, ao longo da sua existência, como gostava de dizer, “fazer história”, tanto deixando-lhe a sua marca através da sua ação política, como escrevendo-a, visto que foi ao mesmo tempo jornalista, escritor, historiador e até pintor.

Por outro lado, ao tornar seu pensamento acessível a todos, a autora apresenta um homem com múltiplas contradições, mas cuja lucidez e coragem nortearam suas ações em uma infinidade de cargos importantes. O personagem que renasce do livro percorre um extraordinário caminho, que o destacou na posição de um visionário como os grandes homens que “fizeram a história” — mas poucos alcançaram o impacto de Churchill como primeiro-ministro britânico.

Churcill e o então general americano Dwight Eisenhower (à esquerda) realizaram disparos com carabinas M1, durante os preparativos para a Batalha da Normandia (Foto: Divulgação/L&PM)

Aos 21 anos, Churchill Em fevereiro de 1895, Churchill foi chamado para servir como segundo-tenente em um regimento da cavalaria do Exército Britânico (Foto: Divulgação/L&PM)

O brinquedo preferido de Churchill na infância (na foto, com 7 anos) era uma coleção de soldadinhos de chumbo (Foto: Divulgação/L&PM)

Com 240 páginas, o livro custa R$ 59,90 (Foto: Divulgação/L&PM)

Para se ter uma ideia, além de primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial, Churchill ocupou o mesmo cargo pela segunda vez, de 1951 a 1955. Foi também Ministro do Comércio, Secretário do Ministério do Interior, Primeiro Lorde do Almirantado, Ministro dos Armamentos, Secretário de Estado da Guerra e Secretário de Estado da Aeronáutica e Chanceler do Tesouro, entre outras posições políticas e ministeriais.

O mundo passou a conhecê-lo quando, com 41 anos de idade, em 1917, tornou-se ministro do Armamento no governo de Lloyd George. Nas décadas seguintes, cumpriu várias missões diplomáticas e militares na França e conheceu Georges Clemenceau, ex-primeiro-ministro da França, com quem conviveu e aprendeu bastante. Até que em 10 de maio de 1940, pouco depois de Hitler invadir a Bélgica e a Holanda, Churchill tornou-se primeiro-ministro e, sem dúvida, mudou os rumos da guerra com suas decisões.

A obra não deixa de fora trechos dos discursos mais famosos, com a eloquência e a força de suas palavras. Em um deles, no Parlamento Inglês, outra frase célebre que ajudou a mobilizar os ingleses contra os nazistas: “Eu gostaria de dizer a esta casa, como disse aos que se uniram a este governo: ‘Não tenho nada a oferecer senão sangue, labuta, lágrimas e suor”.

Continuou ele sobre o enorme desafio que o Reino Unido precisava enfrentar sem cair de joelhos: “Temos diante de nós um ordálio [provação extrema, calvário] do tipo mais doloroso. Temos diante de nós muitos, muitos meses de luta e sofrimento. Os senhores perguntam: ‘Qual é nossa política?’. Eu direi: ‘É travar a guerra por mar, terra e ar, com todo o nosso poder, com toda a força que Deus pode nos dar; travar a guerra contra uma tirania monstruosa, nunca superada na lista de crimes humanos sombrios e lamentáveis”.

Controverso, sem papas na língua, no trato direto, Churchill era tão odiado quanto admirado, inclusive por lideranças amigas. Sentimento, aliás, que não conseguiu manchar sua imagem, por mais que tenham tentado.

Para todos que conviveram com ele, foi preciso admitir, era um grande homem. Não por acaso, ele afirmou que a guerra era quase tão perigosa quanto a política: “Na guerra só se pode morrer uma vez; na política, várias”. Mais uma de suas frases de efeitos a entrar para a história.



Fonte: Neofeed

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