Não faz muito tempo, a Versa Asset Management aparecia no topo dos principais rankings de fundos de investimento do País, principalmente o seu fundo long biased. A gestora liderada por Luiz Fernando Alves Júnior, um jovem ousado que assume posições agressivas, entrou no radar dos investidores de varejo. Mas esse “encanto” vem desaparecendo.
Em 29 de novembro deste ano, o fundo Versa Long Biased caiu 30%. Foi a maior queda dele em um dia. Neste momento, o fundo está no seu maior drawdown histórico, ou seja, a perda máxima em relação ao pico. Isso significa que quem entrou perto desse topo, em 14 de julho de 2021, acumula uma perda de 86%.
Nesses quase três anos e meio, o investidor perdeu quase todo o valor investido. O patrimônio desse fundo caiu de R$ 483,3 milhões para R$ 38,3 milhões. São 850 cotistas, ante 3.618 em agosto de 2018.
Em 2024, o fundo Versa Long Biased acumula 52,7% de queda, ante uma queda de 6% da bolsa e uma alta de 10% do CDI. No ano passado, a queda do fundo foi de 5,8%, ante altas de 22,3% e 13% do Ibovespa e do CDI, respectivamente. Em 2022 (-41%) e 2021 (-37,2%) o cenário foi o mesmo.
“Em fase ruim de bolsa o investidor tem de ter paciência mesmo. Há vários fundos de ações na mesma situação. Mas o problema é que ele [Alves Júnior] usa risco de forma irresponsável que traz perda permanente de capital”, diz ao NeoFeed um distribuidor que pediu anonimato.
Entre 2016 e 2020, o Versa Long Biased viveu um período de glória. Nesses cinco anos teve uma sequência de retornos de 182,1%, 165%, 23,5%, 51,6% e 83,8%. Em todos esses anos bateu com folga o benchmark. Com esse desempenho, atraiu cotistas e chegou a ter R$ 735 milhões sob gestão em julho de 2021. Hoje, a gestora tem algo próximo de R$ 90 milhões.
Nos últimos dias, o NeoFeed conversou com gestores, alocadores e distribuidores para entender o que acontece com a Versa. Todos têm clareza sobre o que levou a gestora à derrocada nos últimos anos: uma alavancagem agressiva e a concentração de posições em poucos ativos. “Ele parece que fica brincando com risco”, disse um gestor. “Na verdade, ele não devia operar nem para ele.”
Aos 41 anos, o carioca Alves Jr. entrou para o mercado financeiro no Itaú. Em pouco tempo, começou a se destacar como gestor de portfólio e chamou a atenção das assets independentes. Em 2013, foi para a GTI Administração de Recursos, de André Gordon e Rodrigo Glatt, assumir a mesma cadeira.
“Ele tem posições muito fortes, inclusive políticas. As posições grandes dele uma hora jogam contra. E só sabe operar alavancado”, conta um profissional que conhece Alves Jr. de perto.
Procurado pelo NeoFeed, Alves Jr. não quis dar entrevista. Mas à Exame, em novembro de 2020, ele foi questionado sobre o seu conhecido alto risco, que estava entregando bons retornos para o investidor, frente a outros fundos que não estavam conseguindo bom desempenho naquele momento.
A resposta do gestor ajuda a entender a sua cabeça: “Sabemos que a alavancagem pode ser um grande problema. Ela é boa quando tudo vai bem, mas quando vai mal te quebra. Portanto, precisam existir regras que garantam que, a partir de determinado momento, a queda do fundo será marginalmente menor. E quando se ganha dinheiro, a alavancagem do fundo diminui, e vice-versa”, disse ele.
Na mesma entrevista, ele prosseguiu: “Se não tem regra em um momento de perda, perdemos mais. Então é isso o que nos diferencia: uma série de regras para garantir que quando perdemos a alavancagem diminua, e não aumente.”
A teoria, no entanto, não tem sido aplicada na prática. Dados da própria gestora mostram que, mesmo após as severas perdas de novembro, o fundo long biased manteve mais de 300% do patrimônio líquido apenas em posições compradas.
A principal aposta do fundo está no setor de varejo, mais sensível às variações de humor do mercado local. Ao final de novembro, essa posição correspondia a uma exposição bruta de 141,8%, sendo responsável por uma queda de 31,1% no mês.
A segunda maior contribuição negativa veio de infraestrutura e transportes, que adicionaram uma perda de 7,3% ao resultado do fundo. Um dos destaques foi a EcoRodovias, que despencou 20% em um único pregão após vencer o leilão de concessão da Nova Raposo por um valor considerado excessivamente elevado pelos investidores.
Com uma volatilidade de 157% nos últimos 12 meses, contra 12,2% do Ibovespa, o Versa Long Biased encerrou novembro deste ano com uma exposição bruta de 548%. Isso significa que, para cada R$ 100 investidos no fundo, o gestor apostou R$ 548 no mercado por meio de derivativos.
“É um apostador, um jogador de cassino. Alguém que opera com esse nível de alavancagem não tem noção de risco”, afirmou um gestor de ações ao NeoFeed.
Segundo o regulamento, o Versa Long Biased pode comprometer até 120% do patrimônio líquido como garantia de margem. Na pior das hipóteses, portanto, poderia exigir que os cotistas realizassem aportes adicionais para cobrir os prejuízos.
Ainda assim, o maior nível de alavancagem da gestora está no fundo multimercado macro, o Versa Tracker, que terminou novembro com uma exposição bruta de 1.147,5%.
Desse total, 890% do patrimônio estava alocado em títulos prefixados. Devido à marcação a mercado, esses títulos são os que sofrem as maiores perdas com a alta dos juros futuros, como ocorreu nas últimas semanas em meio à piora da percepção do risco fiscal.
Nos 11 primeiros meses do ano, o Versa Tracker acumula um desempenho negativo de 71,6%, sendo que em novembro a queda foi de 29,7%. Desde sua criação, em 2018, o fundo acumula uma desvalorização de 67,9%, enquanto o CDI subiu 62% e o Ibovespa, 60,7%.
A má performance tem refletido nos pedidos de resgate. Após atingir o auge em 2021, com três anos consecutivos de alta, o número de cotistas do Versa Tracker caiu de 6,7 mil para 1,8 mil, enquanto seu patrimônio líquido recuou 90%, chegando a apenas R$ 7 milhões.
Devido ao elevado risco das operações, pelo menos cinco distribuidoras que, segundo a Versa, comercializam seus fundos, deixaram de oferecê-los em suas plataformas. Entre elas estão XP, Nubank, Ativa, Guide (ligada ao Safra) e Toro (do Santander). O BTG Pactual ainda mantém a distribuição, mas apenas sob consulta, enquanto o Daycoval avalia a retirada.