Para Henrique Meirelles, governo caiu na própria armadilha

Para Henrique Meirelles, governo caiu na própria armadilha


O governo de Luiz Inácio Lula da Silva chegou na metade de seu mandato pagando pelo erro de ter apostado numa política fiscal expansionista desde a transição, acelerando a economia no curto prazo, que acabou estimulando a inflação e, como efeito, a elevação da taxa de juros.

Por isso, os próximos dois anos serão os mais difíceis para a atual gestão – pois terá de enfrentar os efeitos dessa expansão fiscal, entre eles a evolução da dívida pública, que começa a gerar desconfiança do mercado, tudo isso em meio a um ambiente político adverso no Congresso, por causa das emendas impositivas, que cada vez mais travam o Orçamento e reduzem o espaço de ação do governo.

Esse cenário sombrio para a economia do País no curto prazo foi traçado na quarta-feira, 29 de janeiro, por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, e pelo economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e presidente do Insper, no último painel do LAIC2025, evento promovido pelo banco suíço UBS.

O painel transcorreu enquanto o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, em sua primeira reunião sob comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, confirmava o aumento de 1 ponto percentual da taxa Selic, que agora é de 13,25% ao ano.

Em suas intervenções, Meirelles e Lisboa fizeram uma retrospectiva da economia brasileira desde o primeiro mandato de Lula, no início dos anos 2000, até os dias atuais, apontando erros e acertos da política econômica dos governos de turno e da atuação do Banco Central nesse período.

A constatação de que o governo atual caiu numa armadilha montada por ele próprio e o efeito disso até 2026 chamou a atenção pela falta de opções da equipe econômica para reverter os erros cometidos na largada.

Para Meirelles, o atual governo entra em seu período mais difícil. “Vai ter de enfrentar os efeitos dessa expansão fiscal, como a inflação em elevação, que vai obrigar o BC a subir os juros, e ainda temos outro problema, a evolução da dívida pública atrelada aos gastos previdenciários, que começa a gerar desconfiança do mercado “, diz.

Apesar do quadro difícil, com provável queda de crescimento da economia, Meirelles descarta comparação com a recessão de 2015/2016. “Mas é importante que o governo mostre que está olhando a sustentabilidade da dívida pública”, afirma.

Como ex-presidente do BC, Meirelles também comentou sobre sua expectativa da gestão Galípolo: “A vantagem é que ele foi nomeado pelo Lula, ou seja, não teria intenção de prejudicar o governo. Por outro lado, mercado fica preocupado com essa proximidade, é importante manter uma distância técnica, que influencia a expectativa de inflação.”

Ele elogiou Galípolo por já ter feito a indicação, na reunião passada do Copom, de dois aumentos futuros, de 1 ponto percentual cada, na taxa Selic.

“Ele precisa tomar decisões que caracterizam a independência do BC, é melhor subir mais e depois cortar em seguida ara colocar os juros num ponto em que a inflação converge para a meta”, acrescenta, lembrando que esse tipo de inciativa é essencial para ganhar a “guerra de expectativas”.

Lisboa, por sua vez, disse que o Brasil está pagando o preço do descuido do governo, que estimulou a economia no curto prazo com a expansão fiscal bancada pela PEC da transição.

“Agora, a inflação começa a machucar, obrigando o Banco Central a subir os juros e jogando a economia do país num velho problema, o da volatilidade”, diz.

Segundo ele, a despeito dos erros cometidos pelo governo – “a PEC da transição não conversava com o arcabouço fiscal, que por sinal não parava de pé quando foi lançado” – seria injusto atribuir todos os problemas atuais da economia ao Poder Executivo.

“Agora ainda temos emendas parlamentares siando do controle, são R$ 50 bilhões apenas este ano engessando o Orçamento, não há reforma administrativa que resolva o problema do orçamento público”, diz Lisboa.

Mas ele procurou manter o otimismo, afirmando que o governo precisa tomar algumas medidas. Entre elas, impedir o crescimento dos gatros públicos e estimular as iniciativas da economia que têm avançado.

“No período entre 1980 e 2019, tivemos no total 26 anos de bom crescimento médio – cerca de 3% ao ano, o que é muito bom – e 16 anos de crise, cuja marca é a volatilidade”, diz. O drama, prossegue, é que tivemos mais crises que outros países emergentes.

Lisboa diz que o País tem um histórico de políticas públicas bem-sucedidas em várias áreas, como na saúde (com o SUS), inovação com o agronegócio, formação de capital humano, mercado de capitais consolidado e energia renovável, entre outros.



Fonte: Neofeed

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