Aprender sobre o tema é importante para as provas e para combater os efeitos desse período que reverberam na sociedade brasileira
Ao mergulharmos na história brasileira, nos deparamos com uma narrativa complexa e multifacetada, em que o tema da escravidão se destaca. A abolição oficial em 1888, simbolizada pela assinatura da Lei Áurea, é frequentemente apresentada como o momento decisivo. No entanto, compreender verdadeiramente o passado escravocrata vai muito além de marcar uma data no calendário.
É necessário adentrar nas camadas históricas e compreender as nuances sociais, econômicas e culturais que moldaram e ainda moldam a sociedade brasileira contemporânea. A ausência de políticas sociais e compensatórias pós-abolição revela-se como uma lacuna, deixando um legado de desigualdades persistentes.
Nesse contexto, torna-se imperativo repensar a maneira como abordamos e estudamos esse período em preparação para os vestibulares, pois somente por meio de uma análise crítica e contextualizada poderemos compreender plenamente as raízes dos problemas sociais que ainda assolam o país.
Importância de entender o tema
Para enfatizar a importância de estudar sobre esse período, Gabriel Onofre, autor de História do Sistema de Ensino, ressalta alguns dados: “O Brasil foi o maior território escravista do hemisfério ocidental por trezentos anos, recebendo de maneira forçada aproximadamente 5 milhões de seres humanos escravizados, 40% do total de negros e negras que desembarcaram nas Américas entre os séculos XVI e XIX”.
Segundo o profissional, compreender a história da escravidão e da abolição é fundamental para que os jovens entendam o Brasil de hoje em termos sociais, culturais e econômicos. Não se trata, portanto, apenas de uma questão acadêmica, mas da oportunidade de refletir sobre o passado e estabelecer um país mais igualitário e democrático no futuro.
Temas para estudar
A história da escravidão possui muitas dimensões (social, cultural, econômica e política). Embora todo estudo sobre o tema seja importante, alguns aspectos merecem destaque, pensando de um ponto de vista pessoal e dos vestibulares. O autor do Sistema pH destaca os seguintes tópicos:
- A luta dos escravizados contra a escravidão;
- O protagonismo de escravizados e ex-escravizados no período da abolição;
- A história das mulheres escravizadas;
- Ex-escravizados nas mais diversas esferas durante o período colonial e pós-colonial.
No âmbito escolar, o estudo pode acontecer de forma interdisciplinar, sobretudo pelas disciplinas História, Geografia e Sociologia. Um exemplo de proposta é a pesquisa e o estudo sobre as diferentes dimensões da desigualdade racial no Brasil, produto da herança escravista.
Assuntos sobre escravidão em provas e vestibulares
Nos últimos anos, as questões de provas e vestibulares sobre o tema trouxeram enfoque ao protagonismo dos escravizados, ex-escravizados e negros livres para o fim da escravidão. “Além disso, tem sido recorrente o aparecimento de questões que tratam do contexto pós-abolição, sobretudo chamando a atenção para a herança negativa da escravidão e da forma como a abolição foi conduzida pelas elites brasileiras”, afirma Gabriel Onofre.
Aprofundando os estudos
Para aprender ainda mais sobre a escravidão no Brasil e suas consequências, os estudantes podem buscar recursos além das aulas e materiais didáticos. Gabriel Onofre sugere algumas obras sobre o assunto:
1. Documentário “A Última Abolição”, dirigido por Alice Gomes (2018)
Com a participação de estudiosos, o documentário trata do período da abolição da escravidão, destacando a agência da população negra na luta pela libertação. O longa-metragem traz uma reflexão importante sobre o papel das mulheres na resistência, abordando também as discussões da elite, a assinatura da Lei Áurea e os reflexos de todo esse histórico na sociedade atual.
2. Livro “A sociedade perfeita: as origens da desigualdade social no Brasil”, de João Fragoso
Escrita pelo historiador João Fragoso, a obra reflete, de forma original e didática, sobre a história da desigualdade brasileira. Segundo o autor, as raízes da desigualdade não podem ser atribuídas apenas ao capitalismo comercial, mas também na persistência de relações feudais ibéricas. Para os estudantes, é uma leitura extremamente produtiva, repleta de documentações que reforçam as análises.
3. Trilogia de livros “Escravidão”, de Laurentino Gomes
Com uma linguagem acessível, os três livros do escritor e jornalista Laurentino Gomes sintetizam muitos trabalhos sobre a escravidão. O primeiro volume, focado na África e na captura dos escravos, foi lançado em 2019; o segundo, que se concentra na descoberta do ouro na América do Sul e na necessidade de mão de obra, em 2021; e o último livro, que reflete sobre o tráfico ilegal e os movimentos abolicionistas, chegou às livrarias em 2022. Logo, os estudantes terão acesso a uma visão atualizada e repleta de dados sobre o assunto.
Por Gabriela Canaveira Monteiro