Biden, o protecionista? O que está por trás do aumento de tarifas aos produtos chineses

Biden, o protecionista? O que está por trás do aumento de tarifas aos produtos chineses


Em mais um capítulo da longa guerra comercial entre Estados Unidos e China – e de olho na eleição de novembro -, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na terça-feira, 14 de maio, um pacote de aumento de impostos para importação de produtos chineses avaliado em US$ 18 bilhões.

Entre os produtos chineses que serão sobretaxados já este ano estão os veículos elétricos (cuja tributação passa de 25% para 100%), painéis solares (de 25% para 50%), aço e alumínio (de 7,5% para 25%) e até guindastes (de 7,5% para 25%).

Ao fazer o anúncio, Biden argumentou que não permitirá que a China controle injustamente o mercado de bens essenciais, incluindo baterias, chips de computador e suprimentos médicos básicos, fabricados e exportados com subsídios pelos chineses.

Mas deixou claro o alvo principal: os carros elétricos chineses, sobretaxados em 100%. “Estou determinado que o futuro dos veículos elétricos seja fabricado na América, por trabalhadores sindicalizados, ponto final”, disse ele. “Se a pandemia nos ensinou alguma coisa é que precisamos de ter um abastecimento seguro de bens essenciais aqui em casa.”

O presidente americano citou a medida como uma forma de proteger os mais de US$ 860 bilhões em incentivos para fabricação de veículos elétricos, energia limpa e semicondutores, previstos pela Lei de Redução da Inflação, da Lei Chips e da lei bipartidária de infraestrutura, baixadas em seu governo.

Os trabalhadores da indústria automobilística constituem um eleitorado importante para a Casa Branca. O  Sindicato Unido dos Trabalhadores Automotivos divulgou um comunicado aplaudindo a medida.

Além das novas tarifas de importação que vão entrar em vigor este ano, outras foram postergadas “para as empresas americanas importadoras se adaptarem”, conforme anúncio da Casa Branca.

Entre elas, a tarifa para semicondutores chineses (de 25% para 50%), válidas a partir de 2025, e a sobretaxa para baterias de armazenamento maiores (de 7,5% para 25%) e de importação de grafite natural, também fixada em 25%, que passam a valer em 2026.

Em comunicado, o Ministério do Comércio da China disse que o governo se opõe firmemente à medida tarifária dos EUA e tomaria “medidas resolutas para defender os seus próprios interesses”. O ministério atribui o aumento das tarifas “a considerações políticas dos EUA”.

Jogada eleitoral

A medida foi vista como uma jogada eleitoral de Biden para ganhar votos dos sindicatos, em especial da indústria automotiva, e “roubar” de Donald Trump – adversário nas eleições presidenciais de novembro – a bandeira da guerra comercial com a China.

Entre 2018 e 2019, Trump iniciou a contenda comercial impondo sobretaxa de importações provenientes da China de US$ 300 bilhões. Biden, ao assumir a Casa Branca, deu prosseguimento com novas medidas, mais pontuais, principalmente em semicondutores.

Trump vinha prometendo, se eleito, taxar em 100% a importação de carros elétricos e em 60% os demais produtos chineses. Para reforçar sua estratégia protecionista, também prometeu taxar em 10% importações de todos os demais países.

O ex-presidente ironizou a iniciativa de Biden. “Ele finalmente me ouviu, mas está cerca de quatro anos atrasado”, disse no fim de semana, quando a decisão de Biden pelo pacote já era dada como certa.

Depois do anúncio, Trump dobrou a aposta. “Vou sobretaxar os carros chineses em 200%”, prometeu. O atual presidente, por sua vez, fez questão de cutucar o adversário.

“O meu antecessor, quando estava na Casa Branca, prometeu aumentar as exportações americanas e impulsionar a produção, mas não fez nada disso, falhou”, disse Biden, acrescentando que a nova promessa de Trump de taxar em 10% todas as importações seria “inflacionária”.

Embora as novas tarifas de Biden aumentem o risco de retaliação chinesa, o que poderia, em última análise, impactar no crescimento econômico dos EUA, a prioridade dos dois candidatos parece mesmo ser a eleição presidencial de novembro.

“O fato é que ninguém quer parecer fraco em relação à China”, resumiu Myron Brilliant, ex-vice-presidente executivo da Câmara de Comércio dos EUA.



Fonte: Neofeed

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